Inclusão: mais de 100 anos de atraso

 

O homem comum fala, o sábio escuta, o tolo discute.

Sabedoria Oriental

 

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"Com a entrada na vida civil de 700 mil indivíduos não preparados pela educação, recrescem as contingências previstas para a ordem social e econômica", previu o senador do Partido Conservador, Paulino de Sousa, em 1888, durante o debate no parlamento sobre o projeto que extinguia a escravidão no Brasil. Mas o alerta foi praticamente ignorado por mais de 100 anos.

Políticas educacionais específicas de inclusão para os descendentes dos negros alforriados só começaram a ser implantadas há cerca de uma década, e de forma pontual. Apenas no ano passado, o sistema de cotas raciais e sociais para ingresso nas universidades públicas tornou-se obrigatória por lei.

"É uma ação afirmativa que chega com muito atraso", comenta Carlos Sant"Anna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco. Os indicadores sociais confirmam as dificuldades da população negra. Só 19,8% das pessoas de 18 a 24 anos que frequentam ou já terminaram o ensino superior são pretos ou pardos. Mesmo assim, esse percentual representa um expressivo crescimento se comparado aos anos anteriores. Em 1997, os negros ocupavam apenas 4% das vagas nas universidades. Em 2004, o percentual passou para 10,6%.

Apesar da inclusão proporcionada pelas cotas, o sistema está longe de ser uma unanimidade. O Supremo Tribunal Federal teve de validar a ação afirmativa para evitar questionamentos. Não basta, porém, facilitar o acesso ao ensino superior. É preciso investir em todo o ciclo da educação.
Colaborou Renata Mariz



Correio Braziliense - 13/05/2013

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