Ferrovias buscam sangue novo para o cargo de maquinista

 

O medo de quem navega não é o mar, mas a terra.

Amyr Klink

 

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Durante dez anos, Ale­xandre Henrique Arteiro, de 31 anos, tra­balhou no escritório de advocacia do pai, ao lado dos três ir­mãos, também formados em Direito. Ele seguiria o mesmo caminho, mas decidiu largar a faculdade no terceiro ano. Optou por retomar a profissão do avô e se tornar maquinista de trem. Já trabalhando como manobrista na América Latina Logística (ALL), é um dos alunos do curso de maquinista, um dos poucos do gênero reconhecidos pelo Ministério da Educação, que é ministrado pela universidade corporativa da empresa.

De certa forma, Arteiro conta que es­tá realizando o sonho do pai, que não pôde se tornar maquinista. Há cerca de 30 anos, as oportunidades de crescimen­to na carreira ferroviária eram escassas. A partir da década de 80, a Rede Ferro­viária Federal começou a passar por um processo de sucateamento e desinvestimento - o último concurso para contra­tação de maquinistas da rede foi em 1987, dez anos antes da privatização do setor. Agora, as perspectivas de expan­são do transporte de mercadorias e pas­sageiros por ferrovias está modificando radicalmente esse cenário.

Depois de muito tempo dormente, o transporte ferroviário de passageiros es­tá renascendo das cinzas com projetos como o do trem-bala que deverá ligar São Paulo ao Rio de Janeiro. A circula­ção de trens de carga está em crescimen­to, e um projeto do governo federal pre­vê aumentar a fatia das ferrovias na mo­vimentação brasileira de cargas dos atuais 25% para 32% até 2025. Com mais trens em circulação, o País precisará au­mentar o contingente de maquinistas treinados - por isso, as empresas do se­tor ferroviário estão empenhadas em atrair rostos jovens para a profissão.

Oportunidades. Somente na ALL, em­presa que comprou parte da malha da RFFSA no processo de privatização do setor, há 15 anos, cerca de 200 profissio­nais ingressam como manobristas de trem todos os anos. É a porta de entrada para quem quer ser maquinista, de acor­do com a diretora de gente e gestão da companhia, Melissa Werneck. Atual­mente, a ALL tem 8 mil funcionários, dos quais 20% são maquinistas. "Não existe o profissional pronto no mer­cado. Por isso, decidimos investir na formação", explica a executiva. "Não faltam oportunidades para quem es­tá interessado na profissão."

O cargo de manobrista, diz Melis­sa, funciona como uma espécie de programa de "trainee" para maqui­nistas. Os trabalhadores entram para ser preparados para a profissão, com remuneração mensal de dois salários mínimos. Após um período de treinamento prático, em que manobram trens dentro de pátios fechados, e uma formação teórica de 18 meses,oò manobrista estará pronto para subir de cargo. Com a promoção para ma­quinista, os vencimentos do funcio­nário dobram e chegam a cerca de R$ 2,4 mil. Há um plano de cargos e salá­rios para a carreira, que permite que o profissional chegue a coordenador ou gerente de tráfego ou se torne es­pecialista em produtividade de va­gões ou locomotivas, sem a necessi­dade de chefiar uma equipe.

O caminho da carreira em "Y" dentro da ALL - que dá a chance de o funcionário ganhar mais e assu­mir mais responsabilidades sem exercer um cargo de chefia - foi se­guida por Amarildo Duarte, de 50 anos. Maquinista desde o início dos anos 80, durante anos ele operou trens entre Curitiba e Paranaguá, um dos mais difíceis trechos de ser­ra do Brasil. As três décadas de expe­riência nos trilhos renderam a ele uma nova função: especialista em tração. O profissional vai a campo e faz cálculos para determinar como aumentar a produtividade de loco­motivas e vagões sem a necessida­de de aquisição de novos ativos.

O cargo exige que Duarte exerça sua atividade preferida até hoje: an­dar de trem. El evai a campo para veri­ficar o trabalho de maquinistas e su­pervisores, especialmente em re­giões onde o desempenho operacio­nal está abaixo do esperado. "É uma espécie de auditoria para saber se os maquinistas estão cumprindo as re­gras", explica. O ex-maquinista tam­bém foi escalado para outra função: virou professor do curso de forma­ção de novos profissionais da univer­sidade corporativa da ALL. Ensina a disciplina de regulamento operacio­nal - seguir os procedimentos, segun­do Duarte, deve ser a "regra de ouro" de todos os maquinistas.

Nova carreira. A aderência aos pro­cedimentos pode até render prê­mios. Depois de um período no Exér­cito e de oito anos trabalhando como operário no setor de embalagens de uma madeireira, Sadi Vidal, de 35 anos, resolveu mudar de profissão. Tornou-se maquinista em junho, após concluir o curso de formação no primeiro semestre do ano passado.

No terceiro trimestre, quando ain­da ganhava experiência na função, Vi­dal foi o profissional da ALL com maior índice de cumprimento das re­gras operacionais - e recebeu um prê­mio em dinheiro. O reconhecimento atiçou a ambição do ex-operário. Ago­ra, ele acompanha os indicadores de perto: "No quarto trimestre, tam­bém estou com 100% de aderência (às regras). Meu objetivo é ganhar o prêmio anual."


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