Deficientes - Maior acesso muda perfil universitário

 

Nunca diga nunca, pois os limites são como os medos: sempre são apenas ilusão.

Michael Jordan

 

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Impulsionados pela lei de cotas, deficientes ingressam no ensino superior com a meta de se capacitarem profissionalmente e estarem aptos a disputar os melhores cargos no funcionalismo. Número de estudantes saltou de 5 mil para 23 mil entre 2003 e 2011



A lei de cotas, que obriga os concursos públicos a destinarem um percentual de vagas para pessoas com algum grau de deficiência, mudou, nos últimos anos, o perfil dos estudantes de ensino superior. Embora a norma não se estenda aos vestibulares do país, milhares de alunos com necessidades especiais ingressaram em faculdades com duas metas: conquistar o diploma e cumprir os requisitos para concorrer a cargos melhores nas administrações públicas municipais, estaduais, distrital e federal. Segundo o Ministério da Educação (MEC), entre 2003 e 2011, o número de estudantes deficientes saltou de 5 mil para 23 mil. A maioria está em cursos presenciais nas faculdades particulares.

No Distrito Federal, existem 759 estudantes nessas condições: 65 nas instituições públicas e 694 nas privadas. Um deles é Geraldo Pereira, 21 anos, que entrou na faculdade no ano passado e cursa gestão pública enquanto estuda para concursos públicos. Deficiente físico por causa de um problema de nascença no fêmur direito, Geraldo comemora o ingresso no ensino superior, mas destaca que enfrentou dificuldades. Apesar de não ter nenhum problema cognitivo, aos 7 anos deixou de estudar por um ano. "Foi por preconceito que eu mesmo tinha de mim. Tinha dificuldades para socializar com as outras crianças, mas logo fui assimilando que não tinha que ter essa diferenciação, que eu era igual a todo mundo", conta.

Geraldo ressalta que o cenário para os deficientes tem passado por mudanças positivas, apesar de ainda existir uma série de obstáculos, especialmente na questão da acessibilidade em boa parte das instituições. "Muita gente ainda tem uma visão errada, mas a maioria das pessoas com acesso a informação sabe que a competência entre um profissional com qualquer necessidade ou não é a mesma. Também tenho visto, ao longo dos anos, que a situação está melhor. Quando estava na educação básica, via mais obstáculos em relação à acessibilidade do que vejo hoje", destaca.

Uma boa colocação no mercado de trabalho é o que motiva Geraldo a avançar. "Está difícil para todos, e tenho percebido que muitas pessoas com deficiência estão mirando no serviço público, como eu. A lei de cotas, que reserva 20% das vagas, tem feito a gente ver que há espaço para quem tem alguma necessidade especial." Atualmente, o estudante trabalha como funcionário terceirizado no Ministério da Cultura. Após realizar o sonho de se tornar servidor público, ele planeja voltar às salas de aula. Dessa vez, para cursar psicologia. "É o que eu gosto mesmo."

Inserção no mercado
A especialista em educação inclusiva e professora da Universidade de Brasília (UnB) Amaralina Miranda de Souza diz que a trajetória e os desejos de Geraldo retratam a realidade no restante do país. A diferença é que nem todos conseguem ingressar no ensino superior, mas a dificuldade na educação básica e o sonho da inserção no mercado de trabalho impulsionado pela lei de cotas é parte da rotina dos deficientes. "O próprio percurso do aluno pela educação básica é complicado. Ainda faltam todas as condições para ter uma boa base e um bom currículo, até mesmo na questão da infraestrutura física. A escola tem que se organizar para atender a todos, e todo sistema deve se adequar para atender inclusive as demandas mais específicas." Dados do Ministério da Educação mostram que, no ano passado, 752 mil alunos entre os 50 milhões das redes pública e particular estavam matriculados na educação especial.

Amaralina ressalta que, embora proporcionalmente ainda seja incipiente, o avanço é sempre bom na questão da inclusão de deficientes. "Ainda assim, sabemos que há muito o que melhorar, tanto na questão do processo seletivo de acesso quanto de permanência do estudante. Por outro lado, a população e a política estão mais conscientes. A lei de cotas no serviço público deve colaborar para aumentar esse número de alunos deficientes no ensino superior. O simples fato de reconhecer que existem pessoas em desvantagem já é um passo, mas não o suficiente. É preciso garantir igualdade de oportunidades e as universidades precisam fazer o dever de casa."

O Ministério da Educação diz trabalhar para mudar esse cenário, pelo menos no que tange aos surdos e mudos, deficiência que atinge um em cada quatro dos alunos especiais no ensino superior. Para os próximos dois anos, a pasta, por meio do programa federal Plano Viver sem Limite, espera formar mais professores, tradutores e intérpretes de libras/língua portuguesa. O programa prevê a criação de 27 cursos de letras/libras licenciatura e 27 de bacharelado, com 2,7 mil vagas por ano para a formação de tradutores e intérpretes; e de 12 cursos de pedagogia, com ênfase na educação bilíngue, ofertando 480 vagas por ano. A previsão é que esses cursos possibilitem a contratação de mais de 1,3 mil profissionais da área para garantir acessibilidade aos estudantes com deficiência auditiva nas instituições federais de educação superior.




Autor(es): GRASIELLE CASTRO
Correio Braziliense - 24/12/2012

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